segunda-feira, 25 de julho de 2016

Projeto "Povos do Oriente": religiões orientais 6º ano


Pesquisa: Religiões Orientais


1-      O Zoroastrismo
Zoroastro teria sido o primeiro dos grandes profetas das religiões do mundo (nasceu por volta de 1500 a. C.
Zoroastrismo
O zoroastrismo, também chamado de masdeísmo, uma religião monoteísta fundada na antiga Pérsia (atual Irã) pelo profeta Zaratustra, a quem os gregos chamavam de Zoroastro. É considerada como a primeira manifestação de um monoteísmo ético. De acordo com os historiadores da religião, algumas das suas concepções religiosas, como a crença no paraíso, na ressurreição, no juízo final e na vinda de um messias, viriam a influenciar o judaismo, o cristianismo e o islamismo. Tem seus fundamentos fixados no Avesta (as antigas escrituras do zoroastrismo da Pérsia que datam de 500 a.C., e tem como base um conunto de hinos, ou gathas, que falam do deus criador Ahura Mazda, incluindo a liturgia, preces, mitos e observância religiosa. O zoroastrismo admite a existência de duas divindades, representando o Bem (Ahura Mazda) e o Mal (Arimã), de cuja luta venceria o Bem. De acordo com os relatos tradicionais zoroastrianos, Zoroastro viveu no século IV a.C., pertecendo ao clã Spitama, sendo filho de Pourushaspa e de Dugdhova. Era o sacerdote do culto dedicado a um determinado ahura. Foi casado duas vezes e teve vários filhos. Faleceu aos setenta e sete anos assassinado por um sacerdote. Aos trinta anos, enquanto participava num ritual de purificação num rio, Zaratustra viu um ser de luz que se apresentou como sendo Vohu Manah ("Bom Pensamento") e que o conduziu até à presença de Ahura Mazda (Deus) e de outros cinco seres luminosos, os Amesha Spentas, sendo este o primeiro de uma série de encontros com Ahura Mazda, que lhe revelou a sua mensagem. As autoridades civis e religiosas opunham-se às doutrinas de Zoroastro. Após doze anos de pregação Zoroastro abandonou a sua região natal e fixou-se na corte do rei Vishtaspa na Báctria (região do atual Afeganistão). Este rei e sua esposa, a rainha Hutosa, converteram-se à doutrina de Zoroastro e o zoroastrismo foi declarado como religião oficial do reino.

2-      O  Taoísmo
Taoísmo
Atribui-se a Lao-Tsé a sua fundação, que teria nascido entre os anos 604 e 571 a.C. Era bibliotecário da corte imperial dos Chou e que cansado da desordem do império, abandonou a  corte. Considera que é autor do texto Tao te Ching (Livro do Caminho e da Virtude).
O taoísmo é uma tradição filosófica e religiosa chinesa que tem como conceito chave o Tao, palavra que em chinês pode significar “caminho”, “estrada”, “curso” ou “método”.
Para essa tradição, o Tao é a força cósmica subjacente que cria o universo, compreendendo em si o fluxo natural de surgimento e desaparecimento dos fenômenos, os quais dele emergem e a ele retornam.
 Há um principio fundamental no Taoísmo que consiste em afirmar que tudo que existe está interligado e em perpétuo fluir, como uma corrente de água.
O culto dos antepassados incluía oferendas de alimentos e orações aos espíritos antepassados da família; invocavam a sua ajuda evitavam que degenerassem em fantasmas esfomeados. Para que o morto pudesse ascender ao paraíso depois da morte necessitava de ofertas rituais dadas por membros da família. Não as recebendo, voltaria à Terra transformado num fantasma vingativo.

Atualmente Taiwan, Hong Kong, Singapura, Malásia e outras áreas de assentamento chinês fora do território da China Comunista constituem os centros mais importantes da atividade religiosa taoista. 

3-      O Budismo
O Budismo é um dos fenômenos mais antigos do mundo. É a quarta religião depois do Cristianismo, do Judaísmo e do Hinduísmo. O Budismo não é propriamente uma religião mas mais uma filosofia de vida, visto que, no centro da sua mensagem está o homem; Deus fica numa enigmática penumbra. O objetivo do Budismo – não é a fusão em Brama (o Absoluto), nem a união com Deus, mas chegar ao Nirvana que significa apagar os fogos da saudade e do apego (este pode ser atingido nesta vida). Ensina a via para fugir ao sofrimento e à dor. ¡ "Há uma esfera que não é certa, nem água, nem fogo, nem ar: a esfera do nada. é só aí o fim do sofrimento" ¡ Buda ¡ Um dos princípios fundamentais do budismo é o desenvolvimento de uma atitude de compaixão ou benevolência, de amor, e de comunidade com todos os seres vivos, sem ferir, ofender ou depreciar nenhum deles.
Budismo
O verdadeiro nome de Buda (= iluminado) foi Siddharta Gautama. Nasceu no Nepal, Nordeste da Índia, entre o séc. VI e IV a.C.) (segundo a tradição por volta do ano 566 a. C.), numa família real do clã Xáquia. O pai, temendo que pudesse ser abalado por desagradáveis, manteve-o na área do palácio. Todavia, aos 29 anos, Gautama viu o sofrimento humano, pela primeira vez, sob a forma de um velho, um doente e um morto. Ao deparar com um asceta (monge), resolveu seguir essa antiga via e fugir de casa, de noite, deixando a mulher e a família. Após seis anos de severa austeridade, atingiu o seu objectivo. Mas não escapara ainda ao sofrimento. Sentado debaixo de uma árvore Bodhi, a da iluminação, passou por todas as fases de meditação e atingiu a iluminação, compreendendo a verdadeira natureza do sofrimento. A partir daí foi conhecido por Buda, literalmente "o acordado", e, durante cerca de 40 anos, até morrer, dedicou-se a ensinar a outros o caminho para chegar à iluminação.
A Doutrina ¡ O credo budista consiste nas «quatro verdades santas»: 1- Toda a existência é insatisfatória e cheia de sofrimento; 2- Este sofrimento é causado pela ignorância, pelo desejo ardente ou apego – esforço constante para encontrar algo de eterno e estável num mundo transitório; 3- O sofrimento ou insatisfação pode-se superar na totalidade – é o Nirvana; 4- Consegue-se alcançar a nirvana seguindo o nobre cominho das Oito Vias: (estas oito vias não têm de ser seguidas por um ordem estabelecida) ¡ - compreensão certa (ou fé pura) ¡ - pensamento dirigido certo (ou vontade pura) ¡ - discurso certo (ou linguagem pura) ¡ - conduta certa (ou acção pura) ¡ - esforço certo (ou aplicação pura) ¡ - vida certa (ou meios de subsistência puros) ¡ - atenção certa (ou memória pura) ¡ - concentração certa (ou meditação pura) ¡ Par alcançar a purificação absoluta e, por conseguinte, a iluminação, o Budismo propõe numerosos exercícios. O «Yoga» é o principal. ¡ O budismo acredita que um ser humano antes de atingir o Nirvana, lugar de absoluta tranquilidade, onde o sofrimento não existe, passa por diversos renascimentos. No interior de roda da vida jazem as seis esferas de existência onde os seres podem ser obrigados a renascer: ¡ o reino dos deuses ¡ o dos asuras ou deuses rebeldes e ciumentos; ¡ a dos famintos (pretas); ¡ o dos infernos ¡ o dos animais ¡ o dos seres humanos, caracterizado pelo nascimento, velhice, doença, mal - estar e morte ¡ ¡ No Budismo não existe a alma. Há somente a sequência de um momento de aparecimento que dá origem ao seguinte, de forma que a morte representa simplesmente uma nova forma de aparecimento, como ser humano ou animal, no céu ou no inferno.


4-      O Hinduísmo
Não se pode indicar a data do nascimento do Hinduísmo. No terceiro milênio a.C. havia, junto dos rios Indo e Ganges, uma civilização já bastante avançada. Entre 2000 e 1500 a.C. o povo ariano destrói essa civilização e estabelece ali a religião védica. Veneram muitos deuses. Entretanto aparecem os Upanishadas que forneceram uma nova direção para a tradição védica. O seu estudo deu lugar ao bramanismo (religião dos sacerdotes, Brâhmanes) e depois, no início da nossa era o hinduísmo.
- Vedas (Palavra sânscrita que significa "conhecimento divino"). ¡ Os Vedas são hinos escritos em sânscrito arcaico do séc. XII ao V a.C. e foram cinco colecções ou Samhita, que teriam sido reveladas por Brama aos rishi, ou sábios: é o "shruti", ou revelações. Divide-se em ¡ Rig-Veda – ou veda das estrofes, composto por mil e vinte e oito hinos dirigidos à divindade; ¡ Yajur-Veda – ou Veda das fórmulas sacrificais, composto por cinco coleções de formulação poética; ¡ Sarna-Veda – ou Veda das melodias compreende muitas estrofes acompanhadas quase sempre por notações musicais arcaicas para uso dos cantores. ¡ Atharva-Veda – ou dos contos mágicos, composto por trechos cosmogônicos e místicos.
Hinduísmo
O hinduísmo professa três deuses principais: Brahma, que vem da raiz brah e que significa crescimento. Brahma é a personificação masculina do Absoluto, pai e origem de todas as coisas, criador do Universo. É representado com quatro caras e quatro braços para indicar a sua onipotência. Está presente em todas as coisas podendo manifestar-se sob qualquer espécie humana, animal (vacas sagradas, elefante) ou mineral (rio Ganges). ¡ Assim se revela um panteísmo. Víshnu é a divindade solar que preside as coisas criadas, conservando-as e fazendo-as prosperar. Shiva é oposto a Víshnu, e é chamado o "destruidor". ¡ Entre muitos outros deuses podemos mencionar Rama e Krishna descendente de Vishnu. ¡ O hindu acredita na reencarnação das almas, depois da morte, segundo os méritos. ¡ Acredita também na possibilidade de libertação do homem do ciclo da reencarnação. A ética hinduísta consiste em quatro noções: é preciso aspirar à virtude, mesmo em detrimento de certos bens materiais; a virtude é a prática da não-violência; tem que sofrer pelos outros; e os vícios conduzem ao destino demoníaco que é a vida transmigrante. Culto ¡ Os actos da vida dos hindus revestem-se dum carácter sagrado e devem obedecer a ritos precisos, públicos ou privados ¡ A oração deve fazer-se, pelo menos duas vezes por dia, ao nascer e pôr-do-sol. ¡ Recitam-se textos dos Vedas e oferecemse flores e fogo à divindade a que se presta homenagem. ¡ Existem os brâmanes, sacerdotes que consagram a sua vida aos deuses. ¡ Muitos ritos e festas doméstica acompanham a vida, desde a sua concepção até à morte, passando pelo dom do nome, iniciação religiosa (entre os oito e dez anos), casamento...

5-      O Islamismo
Islamismo
Islam, em árabe significa submissão à vontade de Deus e os muçulmanos são os adetos desta fé. É uma religião iniciada na Arábia por Maomé. Maomé nasceu em Meca (Arábia Saudita) entre os anos 570 e 580 d.C. filho de pais pobres, ficou órfão muito cedo tendo de trabalhar como pastor. Entretanto entrou ao serviço de uma viúva rica, como condutor de camelos. Impressionada pela sua inteligência e beleza, casa com ele apesar de muito mais novo. A sua vida de comerciante rico alterou-se profundamente ao ser alvo de visões numa caverna perto de Meca, numa noite de 611. O próprio Anjo Gabriel, aparecendo-lhe numa nuvem de luz, anuncia-lhe que ele é o profeta de Allah (nome árabe de Deus). Iniciou então as suas pregações, as quais foram alvo de tremendas contestações por parte dos habitantes da sua terra natal. Prega contra o politeísmo e a idolatria. Perseguido, Maomé fugiu para Iatrebe, atual Medina e cidade rival de Meca. A esta fuga deu-se o nome de Hégira. Estávamos então no ano 622 d.C. Esta data constitui o início da contagem cronológica islâmica. Lá, depressa se torou importante a nível político, social, e militar. E em 630, conquistou pela força Meca, tendo-a reconhecido como lugar de peregrinação.
O Alcorão (leitura ou recitação) é o livro que contém as revelações do arcanjo Gabriel feitas ao profeta Maomé. Ensina preceitos religiosos, dogmas e moral. Consta de 114 capítulos (suras). Contêm não só louvores e alusões às características de Allah como também descrições do paraíso e juízo final, lendas judaicas e cristãs e normas sociais.
Os muçulmanos têm cinco obrigações fundamentais: ¡ - profissão de fé na unidade de Deus, Allah, e a missão do Profeta Maomé, emitindo repetidamente que “Não há outra divindade senão Allah e Maomé éo seu Profeta” («Lã ilãh illã'llah Mohammad rasoul Allãh»). ¡ - oração feita 5 vezes por dia, ajoelhando num tapete, voltado para Meca. A oração é um ato de adoração a Allah. As roupas e o corpo devem estar limpos de todas as impurezas. Além disso, no homem, a parte do corpo entre o umbigo e os joelhos deve estar tapada e, na mulher, só as mãos e a cara poderão estar destapadas. ¡ - esmola islâmica (zakat) – é a quantia, em géneros ou em dinheiro, que o Muçulmano que possui meios deve distribuir entre os necessitados. O zakat é obrigatório para quem tem em seu poder, durante um ano, ouro com o peso mínimo de 88 gramas ou prata como peso mínimo de 612 gramas. ¡ - jejum do Ramadão – é o acto de se abster de comer, beber, fumar, etc. durante um mês, desde o nascer até ao pôr do sol. Estão dispensadas as crianças, os dementes, os inválidos, os idosos e os fracos. O viajante, o doente ou a mulher que amamenta, podem adiar este jejum. É feito no mês de Ramadão, mês em que Allah revelou o Alcorão. ¡ - peregrinação a Meca – Deve fazer-se uma vez na vida, se as circunstâncias o permitirem, isto é, se estiverem em condições físicas e materiais para empreenderem a viagem. Lá, devem dar sete voltas à Caaba.


6- O Judaísmo

   A história do Judaísmo começa com o chamamento de Abraão, que por volta de 1850 a.C. deixou Ur para se estabelecer na terra de Canaã, atual Israel. Com a morte de Abraão, Jacó e os seus 12 filhos emigraram para o Egipto à procura de melhores condições de vida e de pastagens para os animais. Com o passar do tempo, foram tratados como escravos e obrigados
Judaísmo
a construir cidades e silos para armazenagem do cereal. ¡ A escravidão durou até 1300 ou 1200 a.C. quando, guiado por Moisés, o povo judeu conseguiu libertar-se e, passando através do Mar Vermelho, regressaram novamente a Canaã. ¡ A história do povo Judeu é também uma história de diásporas, isto é, de exílios. ¡ Entre 500 a.C. e 100 d.C., sucederam-se, em Israel, as dominações estrangeiras: primeiro os Babilónicos, depois os Persas, depois Alexandre Magno, os gregos, e por fim os Romanos. Nos séculos seguintes, a diáspora continuou cada vez mais intensa. Os livros de História recordam a expulsão dos Judeus de Espanha, em 1494 e o extermínio pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Os símbolos do Judaísmo ¡ - O Muro das Lamentações – em Jerusalém, é o que resta do templo de Herodes, destruído pelos romanos no ano 70 d.C. Aqui os hebreus vêm rezar. É o único lugar sagrado de todo o Judaísmo. ¡ - O Candelabro de sete braços – A "Menorah" é o símbolo do Judaísmo. O 7 é para os Judeus o número da plenitude, da perfeição. ¡ - A Sinagoga – É o lugar de oração, de estudo e de reunião. ¡ - O Rabino – Os hebreus não têm sacerdotes. O Rabino é só um mestre, um guia espiritual para os fiéis na interpretação da Bíblia. ¡ - O Sábado – É o dia semanal festivo dos judeus. Começa ao pôr-do-sol de Sexta-feira e vai até ao pôrdo-sol de Sábado. É um dia dedicado à oração e ao descanso. Etapas importantes da vida de um Judeu ¡ - A Circuncisão – Aos oito dias depois do nascimento. Todo menino Hebreu é circuncidado e nesta altura é-lhe dado o nome. A circuncisão simboliza a Aliança entre Yavhé e Abraão. ¡ - Bar-Mitzvah - Aos treze anos, o rapaz hebreu torna-se membro da comunidade e, por isso, está sujeito aos direitos e aos deveres que a Bíblia lhe indica. Vida Religiosa ¡ - O estudo da Torá é o principal dos deveres de um judeu. No livro da Lei estão contidas as 613 obrigações que todo o hebreu piedoso deve observar. ¡ - Quando reza, o hebreu tem a cabeça coberta com o «Talith», um xaile com franjas brancas e pretas, e tem presos à testa e no braço direito as «filatérias», pequenas bolsas que contêm orações da Torá escritos em pergaminho. Tradições ¡ Livro Sagrado ¡ - O livro sagrado é a Bíblia. Corresponde ao Antigo Testamento dos cristãos, com poucas diferenças. A Torá contém os cinco primeiros livros atribuídos a Moisés (Livro da Lei). ¡ ¡ Credo ¡ - «Escuta, Israel, o Eterno é Um só» (Shemá Israel) ¡ Esta oração resume a fé hebraica: acredita na existência de um só Deus. O Judaísmo é uma religião fortemente monoteísta. ¡ - A visão que o Judaísmo tem da vida é optimista, porque o Deus criou o homem livre e responsável. O cumprimento sem reservas das suas obrigações duras e rigorosas da Torá exprime a submissão humana a Deus e simboliza o respeito pela Aliança. ¡ - Os hebreus esperam a vinda do Messias. Virá um tempo – «os dias do Messias» – em que reinarão a paz, a justiça e a fraternidade. Terminarão todas as formas de idolatria e o Eterno será Um e o Seu Nome será Um».


Assista aos vídeos:
O que é Hinduísmo?
O que é Islamismo?
O que é Judaísmo?
O que é Budismo?
O que é Zoroastrismo?
O que é Taoísmo?

segunda-feira, 18 de julho de 2016

Maria Antonieta : filme sobre a Revolução Francesa 8º ano

Maria Antonieta: A última rainha

Menina austríaca que virou soberana da França, Maria Antonieta usou o luxo para se impor na corte de Versalhes. Mas, às vésperas da Revolução Francesa, seu mundo estava condenado a desaparecer


Virar ícone de uma época – representar uma classe, um modo de pensar e de viver – é destino para poucas pessoas. Uma delas, sem dúvida, foi a austríaca Maria Antônia Josefa Johanna von Habsburg-Lothringen, ou simplesmente Maria Antonieta. O problema é que, dependendo de quem a julga, ela é vista de jeitos completamente diferentes. A controvérsia começou ainda na época de sua morte, no fim do século 18. De um lado, era tida como símbolo da arrogância e da insensatez da monarquia francesa. De outro, era admirada como uma mártir, quase uma santa, sacrificada por loucos que tinham se voltado contra a ordem sagrada das coisas.
Durante muito tempo, a discórdia prosseguiu e, no meio da briga, sobrava pouco espaço para quem queria conhecer a Maria Antonieta de carne e osso. Nos últimos anos, porém, historiadores têm se esforçado para trazer à tona uma imagem mais equilibrada da rainha. Os novos estudos mostram que Maria Antonieta não foi uma mulher fútil e ingênua, mas uma mestra em usar o glamour como arma para se firmar numa corte estranha e hostil.
“Maria Antonieta entendeu que ser uma rainha significava essencialmente interpretar um papel. Mais que isso, ela logo descobriu que, por meio de mudanças na moda, ela podia modificar esse papel e até fugir dele”, afirma a pesquisadora americana Caroline Weber, especialista em cultura francesa do século 18 e autora de Queen of Fashion (“Rainha da moda”, inédito em português). “Isso mostra que, até certo ponto, ela tinha uma percepção bem sofisticada e muito moderna do poder da imagem para mudar a realidade.”
Mas toda a astúcia com que Maria Antonieta se firmou na corte de seu marido, o rei Luís XVI, não lhe serviu de nada quando estourou a Revolução Francesa, em 1789, que proclamou a liberdade e a igualdade para todos os cidadãos. Foi uma das maiores reviravoltas da história, considerada o marco que separa a Idade Moderna da Idade Contemporânea. Era o fim do que ficaria conhecido como o “Antigo Regime”, em que os privilégios da nobreza estavam acima de tudo. Era o fim do mundo de Maria Antonieta.
Tudo para trás
A trágica saga de Maria Antonieta começa em Viena, Áustria, numa corte bem menos chique que a da França. Em 2 de novembro de 1755, a imperatriz Maria Teresa deu à luz uma menina pequenina, porém saudável. Era Maria Antônia, seu 15º bebê. O pai, Francisco I, era imperador do Sacro Império Romano-Germânico (que, naquela época, unia frouxamente algumas nações da Europa Central). Mas, apesar da pompa do cargo, não era ele quem mandava. A titular do comando do Império era Maria Teresa, que também era arquiduquesa da Áustria e rainha da Hungria e da Boêmia (hoje parte da Alemanha).
A imperatriz era uma brilhante estrategista política. Detestava perder tempo – aproveitou o parto de Maria Antonieta, por exemplo, para extrair um dente. Mas, apesar de ser viciada em trabalho, era uma boa mãe. Preocupava-se até com a formação musical dos filhos, que tinham contato com alguns dos músicos mais talentosos da Europa. Um deles foi o prodígio Mozart, recebido em Viena com apenas 7 anos. Reza a lenda que, ao andar pelo chão encerado do palácio, ele teria levado um tombo. Maria Antonieta, meses mais velha que ele, teria corrido para ajudá-lo e lhe dado um beijo na bochecha. “Você é bondosa. Quando crescer, quero me casar com você”, teria dito Mozart.
Mas a mãe tinha outros planos para o futuro da menina. Com a morte de Francisco I, em 1765, Maria Teresa buscou se aproximar das outras cortes européias. Usou uma estratégia bastante comum na época: ofereceu suas filhas em casamento. Maria Antonieta se tornou, assim, pretendente de Luís Augusto, neto do rei francês Luís XV. Com a morte prematura dos pais, o rapaz havia se tornado o delfim, herdeiro do trono. A idéia de Maria Teresa era criar uma aliança duradoura com a França, que vivia entrando em conflito com a Áustria e outros membros do Sacro Império.
A corte francesa resistiu bastante à união com a família austríaca, mas, em 1769, veio a proposta oficial de casamento. As diferenças entre os noivos não poderiam ser maiores. Segundo os relatos da época, Maria Antonieta tinha uma impecável pele branca, boca carnuda, cabelos louros e olhos azuis. Caminhava e dançava com elegância. Já Luís Augusto, um ano mais velho que ela, parecia ter crescido demais para a idade. Era desengonçado, absurdamente tímido e considerado um palerma pela corte francesa. Seu único traço aparente de nobreza eram os belos olhos azuis (mas, como ele não levava mesmo jeito para a perfeição, era levemente míope).
O casamento aconteceu em abril de 1770, numa igreja de Viena. E teve toda a cara de arranjo político, já que foi feito por procuração. No altar, Maximiliano, irmão da noiva, fez o papel do delfim. Logo após a cerimônia, um cortejo com 57 carruagens se pôs a caminho da França. Por exigência da nova pátria, ao chegar à fronteira com a França, Maria Antonieta foi obrigada a deixar para trás tudo o que tivesse alguma relação com a Áustria. Não apenas seu enxoval e suas damas de companhia, mas até as roupas que usava. Maria Antonieta despiu-se e recebeu um vestido dourado para continuar a viagem.
Em território francês, a jovem conheceu Luís XV, então com 60 anos. Depois foi a vez do noivo. Luís Augusto, que tivera pouquíssimo contato com mulheres e certamente era virgem, acabou dando apenas um beijo rápido no rosto de Maria Antonieta. Uma nova cerimônia de casamento foi celebrada em Versalhes, o subúrbio nos arredores de Paris onde residia a corte francesa. Sob os olhos atentos da nobreza, o casal se retirou para a cama. Ali aconteceu algo que iria se repetir durante anos: “Nada”, como escreveu o delfim no seu diário, na manhã seguinte.
Versalhes é uma festa
Não foi fácil para a menina de 14 anos se adaptar à nova vida na França. Claro que Maria Antonieta apreciava estar vivendo no palácio de Versalhes, o mais esplendoroso da Europa. Mas as complicadas regras de etiqueta da corte francesa a irritavam um bocado. Para piorar, a privacidade era praticamente inexistente – em tudo o que fazia, ela era observada pelos membros da corte. Além disso, por ter sido criada num ambiente quase puritano, Maria Antonieta não engolia o costume dos nobres franceses de ter amantes “oficiais”. Era o caso do próprio Luís XV, que, viúvo, levava às festas da realeza a ex-prostituta Madame du Barry.
O estranhamento da jovem com a nobreza francesa fez com que ela fosse apelidada, pejorativamente, de l·Autrichienne, “a Austríaca”. “A parte mais antiga da corte considerava Maria Antonieta uma arrivista sem nenhum senso da civilidade, do refinamento e da elegância francesa”, diz Caroline Weber. Por algum tempo, a princesa teve que suportar a má fama. Até que, em 1774, o rei morreu de varíola. Luís Augusto e Maria Antonieta viraram, assim, os soberanos da França. Num piscar de olhos, a rainha usou sua nova posição para criar uma vida de sonho. Dispensou boa parte das antigas damas de companhia, povoou a corte de gente jovem e bonita e ganhou do marido, agora chamado de Luís XVI, o charmoso palácio do Petit Trianon (que antes pertencera a Madame du Barry), em Versalhes. Maria Antonieta organizava corridas de cavalo e se divertia em passeios de carruagem a toda velocidade.
O que mais fascinava a rainha, entretanto, era o agito da noite parisiense (a cidade, então uma das maiores do mundo, tinha 600 mil habitantes). Além de freqüentar óperas e teatros, Maria Antonieta adorava participar de bailes a que as mulheres compareciam mascaradas. Assim, podia se misturar com plebeus sem ser reconhecida. Como Luís XVI adorava acordar cedo, ele não se incomodava em deixá-la ir se divertir sem ele. O rei, aliás, parecia satisfeito em fazer as vontades de sua esposa. Como ela gostava de jogar cartas, Luís XVI instalou um cassino particular em Versalhes. Na estréia da nova atração, a rainha jogou durante 36 horas seguidas. Perdeu uma boa quantia de dinheiro dos cofres da coroa. Nada comparável, claro, ao que ela gastava para aumentar sua coleção de diamantes.
O poder do glamour
Por trás desse mundo de diversão e festas, Maria Antonieta tinha que suportar muitas pressões. Os nobres que haviam sido excluídos do convívio com a rainha não paravam de caluniá-la. Segundo Caroline Weber, o jeito de Maria Antonieta reagir era manipular sua aparência. “Ela usava a moda como um instrumento político, como forma de aumentar ou sustentar sua autoridade em momentos em que ela parecia estar sob risco, como nos sete anos que se passaram antes que ela tivesse um filho”, diz. Por meio de novas roupas, sapatos e penteados, a rainha se impôs, colocando-se acima de qualquer mulher francesa.
“Foi uma atitude inédita para uma rainha”, afirma Caroline. “Antes, as soberanas francesas tinham de projetar uma imagem dócil, vivendo longe dos holofotes. Quem tentava se envolver em política e exibir seu poder por meio de roupas luxuosas eram as amantes dos reis.” A família real francesa sabia da influência que as amantes costumavam ter nos rumos do governo. Por causa disso, havia exigido, durante as negociações com a mãe de Maria Antonieta antes do casamento, que a futura rainha fosse sedutora o bastante para que o rei não encontrasse distração fora de casa. Deu certo. Fosse por causa da beleza de Maria Antonieta ou pela própria falta de apetite sexual, Luís XVI não dava suas escapadas. O problema é que ele tampouco deixava Maria Antonieta meter a colher na política, o que irritava profundamente Maria Teresa, que insistia que a filha tentasse transformar o monarca num fantoche a serviço de seus interesses.
A posição de Maria Antonieta na corte francesa melhorou bastante depois que ela e Luís XVI finalmente tiveram seu primeiro bebê. Em 1778, nasceu Maria Teresa, batizada em homenagem à avó (a imperatriz morreria dois anos depois). O tão esperado delfim, Luís José, veio em 1781. “Com o nascimento de um filho homem, Maria Antonieta assumia a posição tradicionalmente forte de qualquer rainha da França que tivesse produzido um delfim”, conta a historiadora britânica Antonia Fraser, autora do livro Marie Antoinette – The Journey (“Maria Antonieta – a jornada”, inédito no Brasil), que serviu de inspiração para o filme de Sofia Coppola sobre a personagem, que deve estrear por aqui em março.
Depois do nascimento do herdeiro, Maria Antonieta ganhou coragem para desafiar ainda mais os costumes de Versalhes. Quando teve os últimos dois filhos, um menino e uma menina, ela se recusou a dar à luz em público, quebrando a tradição da corte francesa. A essa altura, Maria Antonieta parecia viciada em flertar com a impopularidade. Flertar, aliás, tinha se tornado uma rotina na vida dela desde o fim dos anos 1770, quando conhecera o belíssimo conde sueco Axel Fersen. Se não existem provas de que eles chegaram a ter relações sexuais, há poucas dúvidas de que os dois se amavam: os diários de Fersen, em linguagem cifrada, falam de uma “Josefina”, que certamente era Maria Antonieta.
Tragédia anunciada
Entre 1779 e 1782, Maria Antonieta e o conde Fersen tiveram que se separar. Ele estava na América, lutando ao lado das tropas francesas pela independência dos Estados Unidos. A saudade do amado foi o maior impacto que a guerra teve sobre o cotidiano da rainha. Nessa época, ela transformou parte do Petit Trianon numa réplica das vilas camponesas da França, com casinhas simples, vacas e ovelhas. Para completar o faz-de-conta, Maria Antonieta passou a se fantasiar de pastora.
Longe de Versalhes, os camponeses de verdade e o resto do povo francês viviam um período difícil. A economia cambaleava, com o governo atolado em dívidas. Os gastos com a guerra na América, que acabou em 1783, só pioraram o cenário. Maria Antonieta ganhou, então, um novo apelido: “Madame Déficit”. Os gastos da rainha tinham um impacto mínimo no total das despesas da nação, é verdade. Mas seus hábitos extravagantes se tornaram o principal alvo da revolta popular contra tudo o que havia de errado no governo.
A péssima colheita de 1788 deixou os camponeses famintos e desesperados. Enquanto isso, a classe média (a burguesia) reclamava dos privilégios dos nobres. Debaixo de tantas críticas, Luís XVI tomou a pior decisão de seu reinado. Convocou, para maio de 1789, uma reunião dos chamados Estados Gerais: uma assembléia reunindo representantes do clero, da nobreza e do povo. Em vez de apoiar as tímidas reformas que o rei pretendia fazer, os Estados Gerais logo foram dominados pelos não-nobres. Em 9 de julho, eles conseguiram criar a Assembléia Nacional Constituinte. Enquanto os camponeses de toda a França se revoltavam contra seus senhores e o povo de Paris destruía a Bastilha (prisão-símbolo do autoritarismo do rei), a assembléia abolia o regime feudal e os privilégios da nobreza.
Em outubro, o povo rebelado invadiu Versalhes. Durante duas noites de agonia, Luís XVI e Maria Antonieta ficaram sitiados com os filhos, vários nobres e uns poucos guardas. Aos gritos, a multidão exigiu a presença da rainha no balcão do palácio. Quando ela apareceu, sua figura altiva acalmou um pouco os ânimos. Mas a família real acabou aceitando as reivindicações do povo: aceitou abandonar a “ilha da fantasia” de Versalhes e se estabelecer em Paris.
A Assembléia Nacional exigiu então que o rei governasse com uma câmara de representantes do povo. Mas Luís XVI não aceitava dividir o poder. Em junho de 1791, ele e a rainha tentaram fugir da França, mas foram pegos e levados de volta a Paris. Sem alternativa, passaram a esperar ajuda da nobreza de outros países. Maria Antonieta manobrou nos bastidores para que seus parentes atacassem a França. A Assembléia Nacional acabou facilitando: como queria expandir a revolução pela Europa, ela deu apoio para que Luís XVI declarasse guerra contra a Áustria. Auxiliadas pela Prússia (hoje parte da Alemanha), as forças inimigas invadiram o país e ameaçaram marchar sobre Paris se a família real sofresse algo. O fato foi visto pelo povo como sinal de que Luís XVI era um traidor.
Em 20 de setembro de 1792, as forças francesas detiveram os invasores. No dia seguinte, a república foi proclamada e a família real foi presa. O ódio contra a nobreza atingiu o ápice. Uma das melhores amigas da rainha, a princesa de Lamballe, foi linchada. Enfiada na ponta de um pedaço de pau, sua cabeça foi levada até a janela da cela de Maria Antonieta, que entrou em pânico e desmaiou.
Em janeiro de 1793, Luís XVI foi guilhotinado. Isolada na prisão, Maria Antonieta passou a vestir apenas preto. Foi levada a julgamento, acusada até de incesto com o filho mais novo. O processo não trouxe qualquer evidência concreta contra Maria Antonieta. Quando o júri exigiu uma explicação sobre o incesto, a ex-rainha gritou: “Se não respondi, foi porque a natureza se recusa a responder tal acusação feita a uma mãe. Apelo às mães aqui presentes!” Foi o único momento em que o público protestou em sua defesa. Condenada à morte, Maria Antonieta viveu um papel que não combinava com ela, o de vítima. Em 16 de outubro de 1793, foi guilhotinada em praça pública.
Texto extraído do site http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/maria-antonieta-ultima-rainha-435058.shtml

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terça-feira, 5 de julho de 2016

Rainha Nzinga: a rainha de Angola

NZINGA, A RAINHA NEGRA QUE COMBATEU OS TRAFICANTES PORTUGUESES 


No século XVII, o lucrativo comércio de escravos praticado pelos portugueses sofreu um duro revés. A oposição mais forte que enfrentaram veio da rainha Nzinga, uma obstinada líder política e militar que, por quarenta anos, impediu que os portugueses penetrassem no continente africano. Conheça a história dessa mulher africana extraordinária. Seu nome é grafado de diferentes maneiras: Nzinga, Ginga, Jinga, Singa, Zhinga e outros nomes da família linguística Banto (ou Bantu). É também conhecida pelos nomes portugueses de Ana de Souza, rainha Dona Ana e pelas formas híbridas como rainha Ana Nzinga.  Nzinga Mbandi Ngola Kiluanji, nasceu em 1582, no Ndongo, filha do ngola com uma escrava ambundo. Ainda criança, começou a ser treinada para o combate e o uso de armas. Com oito anos de idade, acompanhou o séquito do pai, em uma batalha, como parte dos exercícios de guerra. Com a morte do pai, em 1617, seu irmão Mbandi tornou-se ngola ascendendo ao trono de Ndongo. Por essa época, os portugueses já estavam estabelecidos na ilha de Luanda onde fundaram a vila de São Paulo de Luanda, construíram igreja, casas e fortificações. Enfrentaram a resistência dos chefes angolanos e as doenças tropicais que impuseram pesadas perdas aos portugueses. Calcula-se que, entre 1575 e 1590, dos 1700 europeus falecidos em Angola, só 400 perderam a vida na guerra; os demais, quase 80%, morreram de maleita e outras febres.  No lugar de prata, escravos  O interesse inicial dos portugueses, em Angola, não era o tráfico de escravos mas as riquezas do país, suas jazidas de prata, cobre e sal. Além disso, o domínio de Angola abriria caminho para chegar, por terra, até as fabulosas minas de Monomotapa (atual Zimbábue). Acreditando que Angola seria um novo Peru, o rei de Portugal e Espanha (era o início da União Ibérica) enviou soldados, armas e canhões para derrotar os angolanos. Foram 24 anos de combates até os portugueses finalmente atingirem, em 1603, às supostas minas de prata de Cambambe, ao sul de Luanda. Mas o contentamento durou pouco: as amostras colhidas revelaram-se de chumbo. Não havia prata em Cambambe. Decepcionado, o rei Felipe III mandou suspender a conquista e limitar-se ao tráfico de escravos. O porto de Luanda tornou-se o local de embarque de milhares de escravos. Por volta de 1600, a média anual era de 5.600 escravos provindos de diversas partes da África e embarcados para a América. Em Luanda chegavam vinhos portugueses, artigos de ferro e latão, mantas do Alentejo, lãs e linhos de Flandres, contas de vidro de Veneza, algodão e musselina da Índia a ainda produtos brasileiros como a farinha de mandioca. Como moeda usam-se os panos fabricados no Congo que recebiam um carimbo com o emblema real e eram usados para a aquisição de escravos. Conforme relata Costa e Silva, esses tecidos, em geral, não eram usados como roupas; passavam de mão em mão até se desgastarem e puírem, perdendo progressivamente parte de seu valor.  O comércio de escravos Os portugueses tinham pouco controle sobre a captura de escravos. A apreensão e o comércio em território de Angola eram fortemente centralizados pelo ngola Mbandi, o rei ambundo, irmão de Nzinga. Ele cobrava dos portugueses tributos e taxas e proibia-lhes o acesso ao interior do reino e a compra direta de escravos. As vendas de escravos eram fiscalizadas e só podiam ser feitas por lote, não permitindo ao traficante escolher as “peças” que lhe interessavam. O ngola mandava incluir, no lote, negros idosos, doentes ou com defeitos físicos de difícil colocação no mercado escravo de Luanda. Os que desrespeitavam as regras e os costumes locais eram punidos com o confisco da mercadoria, prisão, expulsão, açoites e até morte. As restrições ao livre trânsito dos mercadores e as sanções aplicadas pelo ngola aos infratores causaram indignação entre os portugueses de Luanda. Afinal, para eles, aquelas terras eram de Portugal. As tensões levaram a uma nova guerra contra o ngola Mbandi que, como ocorrera outras vezes, ficou inconclusa. Entra em cena a princesa Nzinga Em 1621, chegou a Luanda o novo governador português que se apressou a buscar a paz com o ngola Mbandi. Para negociá-la, o rei ambundo enviou a Luanda uma embaixadora – sua irmã Nzinga, então com 39 anos de idade. Nzinga sentou-se sobre sua acompanhante colocando-se em posição de igualdade com o governador português. Manuscrito de Cavazzi, missionário capuchinho, 1687 Neste encontro, ocorreu um episódio curioso que revela a altivez da princesa ambundu. Como o governador a recebeu sentado e não lhe ofereceu cadeira, Nzinga fez um sinal para uma de suas acompanhantes que se colocou de quatro no chão para a princesa sentar-se sobre ela. Ao sair, deixou a moça na sala, na mesma posição, como se fosse um banco. O governador avisou-a para levar a moça e Nzinga respondeu-lhe que não sentaria novamente naquele banco pois tinha muitos outros e não o queria mais. A princesa, inteligente e decidida, deixou claro que o rei ambundo não era e nem seria vassalo do rei ibérico. Estava ali como representante de um estado soberano e exigia tratamento de igual para igual. Para surpresa de todos, Nzinga falou em português fluente. Possivelmente aprendera a língua com alguns dos mercadores e missionários portugueses que haviam frequentado a corte de seu pai. Nzinga exigiu que os portugueses abandonassem suas instalações no continente, que entregassem os chefes africanos prisioneiros e ainda um lote de armas de fogo. Em sinal de sua intenção de celebrar o acordo de paz, Nzinga aceitou o batismo católico sob o nome português Ana de Souza. A conversão foi um jogo político do qual ela vai se valer em outros momentos para ganhar confiança e confundir os portugueses.  A rainha Nzinga Vários meses se passaram desde o encontro em Luanda sem que os portugueses cumprissem sua parte no acordo. Não estavam dispostos a ceder em nada. Nzinga vai cobrar, pelas armas, o que fora prometido mas, dessa vez, como ngola, rainha de Ndongo.  A ascensão de Nzinga ao trono, em 1623, é rodeada de mistérios. Alguns estudiosos afirmam que ela envenenou o irmão, outros dizem que o rei se suicidou por decisão dos grandes chefes. Há ainda a versão de que Nzinga, com a morte do irmão tornou-se regente do garoto escolhido como novo ngola, mas a criança pouco depois, morreu afogada no rio Cuanza. Começava a nascer uma “mitologia Nzinga”. Rainha enigmática, cujo nome causava terror entre os portugueses, ela deu origem a lendas e relatos contraditórios a seu respeito. Nzinga e seu séquito. Manuscrito de Cavazzi, missionário capuchinho, 1687. Desconhece-se sua imagem, não existem retratos da rainha elaborados no seu período de vida. Uma imagem de 1769, para a obra Zingha, reine d’Angola, de Jean-Louis Castilhon, mostra a rainha de perfil com um olhar recatado que nada corresponde ao perfil guerreiro dessa líder política africana. Usa coroa, colar, bracelete, broche e manta típicos da cultura europeia. O toque exótico e sensual fica por conta do seio à mostra, como era comum nas representações de africanas pelo traço europeu cristão.  A imagem aproxima-se da descrição de Glasgow: Vaidosa quanto às roupas e aparência, trazia na cabeça a coroa real, com joias de prata, pérolas e cobre  a lhe adornarem os braços e as pernas. Lindos tecidos e roupas eram sua paixão especial e não perdia nenhuma oportunidade de adquirir novas roupas em estilo europeu dos mercadores portugueses. Às vezes ela trocava de traje várias vezes por dia, variando das modas africanas para as portuguesas e vice-versa, até no estilo do penteado. (…) Quando Nzinga recebia hóspedes estrangeiros, tanto ela quanto sua corte se adornavam com dispendiosos trajes e joias europeias e havia farto  uso de baixelas de prata, cadeiras e tapetes. Saudava os hóspedes com o selo real de prata na mão e a coroa na cabeça, ocasionalmente até três vezes por semana. (Glasgow, p. 95-96) Nzinga usando elementos da cultura europeia e africana em uma gravura do século XVIII. Costa e Silva apresenta outra descrição de Nzinga:  “Ela recusava o título de rainha e fazia questão de ser chamada rei. Por isso que decidiu tornar-se socialmente homem e ter um harém, com os concubinos vestidos de mulher. Por isso que lutava como um soldado, à frente do exército. Na realidade, Jinga estava a criar a sua tradição, a sua legitimidade, os precedentes que permitiriam a suas netas e bisnetas ascenderem, sem contestação do sexo, ao poder.” (Costa e Silva, p.438) Em obra recente, Nzingha: warrior queen of Matamba, de Patricia McKissack, publicado em 2000, o conceituado ilustrador Tim O’Brien, criou uma nova imagem da rainha ambundo dando-lhe uma fisionomia bantu juvenil. Ela usa bracelete e colar típicos da realeza bantu, um cordão de zimbos ou búzios, uma concha utilizada como moeda nos reinos do Congo, Ndongo e em sociedades tradicionais de Angola. O vestido colante com grafismos em zig-zag, motivo recorrente na cultura material da África subsaariana, e o arco e flechas compõem o retrato guerreiro e africano de Nzinga. Nzinga com uma fisionomia bantu juvenil, segundo representação feita por Tim O’Brien, em 2000. O filme Njinga, rainha de Angola, de 2012 (mostrado no Brasil em 2014) construiu outra imagem da rainha. Para representa-la, foi escolhida Lesliana Pereira, miss Angola 2008. A beleza da atriz reforçada por trajes sensuais em cenas de combate aproxima a rainha à imagem de uma super-heroína africana. Nzinga reinou absoluta durante quarenta anos sobre Ndongo (1623 a 1663) e, a partir de 1630, também sobre Matamba. Para enfrentar os portugueses, aliou-se aos ferozes jagas e desposou um chefe deles.

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